sexta-feira, 22 de março de 2013

Manicomics - Loucos por quadrinhos: postagem 01


Ainda não sei que nome terá o livro (o título lá de cima é provisório), nem se vai ser realmente impresso, mas vou seguir o exemplo do Prof. Octavio Cariello e vou colocar os capítulos aqui no blog. Você não sabia que eu estava escrevendo um livro? Bem, nem eu sabia. Fique a vontade para ler ou para não ler, comentar ou não comentar. Esse material está aqui por vários motivos e com várias finalidades. E quem sabe alguém acabe gostando dessa parada de um livro sobre um bando de garotos que eram loucos por quadrinhos e acabaram trabalhando com isso?


O Dia que entrei para a Oficina de Quadrinhos 
por JJ Marreiro


1992, Jornada nas Estrelas VI - A Terra Desconhecida estava prestes a estrear, como um bom trekker obviamente colecionava a revista Star Trek editada pela Abril. Por meio da revista que tinha capas fantásticas e aproveitava a onda da Nova Geração (disponível em VHS na época e recém estreada na TV Manchete).

Entre as coisas boas da revista estava a seção de cartas que promovia contato entre trekkers de diversos lugares do Brasil. No Rio de Janeiro havia o JETCOM (Jornada nas Estrelas Terminal de Comunicações) que editava um fanzine muito completo e tinha como ilustrador um cartunista chamado Guilherme Briggs que era também dublador do Ten. Worf da Nova Geração. Voltando à revista da Abril, travei contato com uma turma que estava se organizando para ir à estréia do Star Trek VI no Cine Diogo, no centro de Fortaleza. Nessa turma estavam o Cláudio Campos, Renato Ribeiro e o Rondinelly Nogueira eles formavam um grupo que se reunia esporadicamente quando surgiu o convite para ajudar na organização de um Festival de Ficção Científica num curso de inglês tradicional da cidade. Na época, como bom fã, carregava para todo lugar uma pasta de desenho lotada com reportagens de Star Trek e desenhos que fazia dos personagens e naves da série.

No tal curso de inglês acabei conhecendo o Prof. Fernando Lima (também trekker) que era monitor de um projeto de extensão da UFC voltado para quadrinhos: A Oficina de Quadrinhos da UFC. Ele viu meus desenhos (que eram fracos mas eram muuuitos), eu desenhava mal, mas desenhava o tempo todo, assim rapidinho lotava uma pasta de desenho.

Sábado de manhã encontrei o Fernando Lima e fomos para a Av. da Universidade. A Oficina funcionava na sala de Comunicação Visual no pátio da Comunicação. Não era fácil de achar. Quando chegamos havia várias pessoas tendo aula, guris pequenos, que ficavam ainda menores por causa das mesas de desenho arquitetônico que estavam ocupando. Após passar pela sala de aula chegamos na sala de reuniões onde se encontravam os veteranos da Oficina. Neste dia estavam por lá o Prof. Jesuíno (um cidadão respeitável, de bigode, que imediatamente associei ao Stan Lee – ele era tipo o dono da parada), Walber Feijó, Silas, Weaver e Marcílio. Lembro que tinha uma menina desenhista por lá, coisa rara na época, e lembro de ter estranhado muito os desenhos que ela mostrou. Se fosse classificá-los hoje diria que eram desenhos expressionistas. Nunca mais a vi por lá.

Fernando me presenteou com os número 03 e 04 da revista da Oficina, uma publicação chamada PIUM. A Oficina tinha cursos para a comunidade, naquele dia, Paulo Henrique Giffoni estava encarregado da aula que ocorria na sala por onde havíamos passado.

Durante a reunião, o Prof. Geraldo Jesuíno olhou os desenhos que eu havia levado, maneou a cabeça, levou a mão ao queixo: “Tem alguma coisa aqui.” Em seguida olhou pro Fernando: “E aí Fernando?”  A resposta não parecia uma resposta: “Rapaz...” Depois o Professor olhou pra mim e perguntou: “Vamo trabalhar?”

Na época, as aulas para a turma mais avançada eram feitas em cima de produção e acompanhamento. Você fazia HQs mostrava, recebia recomendações, tentava aplicar essas recomendações na sua próxima hq e aí por diante. Era uma evolução monitorada, quase como no sistema medieval onde cada aprendiz tinha um Mestre. Recebi dicas de livros que deveria ler, alguém me mostrou o Quadrinhos e Arte sequencial de Will Eisner, outra pessoa me mostrou um album do Moebius e alguém estava folheando uma edição da Heavy Metal. Fernando foi encarregado de me dizer como eu deveria proceder e, eu poderia inclusive chegar a publicar na revista da Oficina (o já citado Pium), se conseguisse evoluir roteiro, traço e a narrativa. Minha primeira missão na oficina foi de entregar em 7 dias uma hq inédita, de uma página, para avaliação.

 Era um novo universo — aquele que a Oficina estava me mostrando — um em que fazer quadrinhos era levado a sério e envolvia muitas técnicas e soluções. Algo que descobri naquele ambiente através do Weaver Lima foi que eu podia ter minha própria revista, poderia desenhar e xerocar minhas hqs e enviar pra quem eu quisesse. Weaver integrava um grupo de produtores que organizava baladas regadas a rock e quadrinhos,conseguia patrocícios e lançava seu material de modo independente sem um editor que ditasse regrar para sua obra. “Fazer minha própria revista?” Aquela idéia ainda era um sonho muito distante mas seria um dos elementos que tornaria possível o nascimento de uma coisa chamada Manicomics.

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