A Reunião dos 13 e o lançamento do número Zero
por JJ Marreiro
Ao integrar a Oficina de Quadrinhos da UFC no início dos
anos 90 era fácil deparar-se com temáticas e interesses diversos que refletiam
as preferências de professores, monitores e alunos. Essa diversidade funcionava
como norte para a Oficina de Quadrinhos (um curso de extenção que favorecia e
estimulava a produção de arte sequencial em Fortaleza), mesmo assim havia uma
recepção diferenciada para temas regionais, fosse pelo aspecto da valorização
cultural, fosse por sua fácil aceitação nos meios mais intelectualizados. À
margem disso e do humor (tema forte em qualquer cenário de produção
quadrinística do Brasil) ficavam temas como heróis uniformizados, tokusatsu,
ficção científica, terror, fantasia e erotismo.
As atividades da Oficina eram coordenadas por professores,
monitores e alunos. Daniel Brandão após concluir o curso passou a integrar a
equipe de monitoria junto com outros amigos como João Belo, Julio Belo e
Alexandre Vidal (Falex) que juntos formaram o Garage Comix e passaram a editar
o fanzine Demolição. Daniel e eu convidamos os autores que tinham interesse de
realizar produções desvinculadas dos temas regionais e intelectuais e que
possuíam um viés mais pop em sua produção. Eram 13 autores, nesse time estavam
incluídos Geraldo Borges e Eduardo Ferreira. Fizemos uma reunião para definir
linha editorial e nome para a publicação. As semanas seguintes seriam de
produção intensa pois sinopses de histórias, character designs, propostas de
histórias e inclusive hqs prontas já seriam avaliadas para publicação. Ou seja,
estávamos pondo em movimento o moinho que daria vida ao Manicomics, título
sugerido pelo amigo Sergio “Otomo” Cavalcante. Dos 13 artistas que
empolgadamente definiram a linha editorial apenas Daniel, Geraldo, Eduardo e eu
permanecemos no barco quando chegou a data de entrega de material. Essa mesma
equipe foi a alma do Manicomics até a entrada de Allan Goldman para o conselho
editorial já no início dos anos 2000.
Em 1996, quando Daniel, Geraldo e eu tínhamos começado a
produzir arte para a revista Capitão Rapadura, do cartunista Mino surgiu um
convite para participar de uma exposição de quadrinhos no SESC. A exposição
teria artes originais do Álvaro Rio, do Mino e
nossas. Além da exposição dos originais de um fanzine chamado Daes Irae. No
evento haveria lançamento de vários fanzines e estávamos encarregados de levar
edições da revista do Capitão Rapadura. O Manicomics #0 estava em fase de
produção e aproveitamos a oportunidade para fechar a edição e fazer o
lançamento por lá.
Foi um evento pequeno, mas interessante, além da exposição,
teve palestra dos convidados, venda de fanzines, revistas e exibição dos
seriados de matinês dos anos 40: Shazam, Fantasma e Batman.
Para o evento conseguimos fazer uma tiragem de cerca de 900
exemplares ―explico detalhes disso logo mais― e distribuímos o Manicomics
gratuitamente. Muita gente gostou, travamos contato com muita gente legal que
viria a nos ajudar nos anos seguintes.
Final do evento recolhemos nossas artes, reunimos e
organizamos nosso material, mas eis que na saída encontramos um exemplar da
nossa publicação no lixo. Comentei com alguém quando Daniel falou: “Rapaz,
também vi exemplar no lixo.” “Estão pensando que é folder” acrescentou Geraldo.
As pessoas não entenderam que a distribuição gratuita era uma forma de ampliar
bastante o público. No dia seguinte mudamos a tarja da capa de “exemplar
gratuito” para: “Preço R$ 1,00”. Era um valor simbólico, mas dali pra frente
quem colocasse o exemplar no lixo estaria jogando dinheiro fora. Aprendemos na
prática a necessidade de valorizar o próprio trabalho para que os outros também
o valorizem.