domingo, 15 de setembro de 2013

Manicomics - Loucos por quadrinhos : postagem 02

Ainda não sei que nome terá o livro (o título lá de cima é provisório), nem se vai ser realmente impresso, mas vou seguir o exemplo do Prof. Octavio Cariello e vou colocar os capítulos aqui no blog. Você não sabia que eu estava escrevendo um livro? Bem, nem eu sabia. Fique a vontade para ler ou para não ler, comentar ou não comentar. Esse material está aqui por vários motivos e com várias finalidades. E quem sabe alguém acabe gostando dessa parada de um livro sobre um bando de garotos que eram loucos por quadrinhos e acabaram trabalhando com isso? Caso tenha interesse, a postagem 01 está neste link.

A Reunião dos 13 e o lançamento do número Zero
por JJ Marreiro 

Ao integrar a Oficina de Quadrinhos da UFC no início dos anos 90 era fácil deparar-se com temáticas e interesses diversos que refletiam as preferências de professores, monitores e alunos. Essa diversidade funcionava como norte para a Oficina de Quadrinhos (um curso de extenção que favorecia e estimulava a produção de arte sequencial em Fortaleza), mesmo assim havia uma recepção diferenciada para temas regionais, fosse pelo aspecto da valorização cultural, fosse por sua fácil aceitação nos meios mais intelectualizados. À margem disso e do humor (tema forte em qualquer cenário de produção quadrinística do Brasil) ficavam temas como heróis uniformizados, tokusatsu, ficção científica, terror, fantasia e erotismo.

As atividades da Oficina eram coordenadas por professores, monitores e alunos. Daniel Brandão após concluir o curso passou a integrar a equipe de monitoria junto com outros amigos como João Belo, Julio Belo e Alexandre Vidal (Falex) que juntos formaram o Garage Comix e passaram a editar o fanzine Demolição. Daniel e eu convidamos os autores que tinham interesse de realizar produções desvinculadas dos temas regionais e intelectuais e que possuíam um viés mais pop em sua produção. Eram 13 autores, nesse time estavam incluídos Geraldo Borges e Eduardo Ferreira. Fizemos uma reunião para definir linha editorial e nome para a publicação. As semanas seguintes seriam de produção intensa pois sinopses de histórias, character designs, propostas de histórias e inclusive hqs prontas já seriam avaliadas para publicação. Ou seja, estávamos pondo em movimento o moinho que daria vida ao Manicomics, título sugerido pelo amigo Sergio “Otomo” Cavalcante. Dos 13 artistas que empolgadamente definiram a linha editorial apenas Daniel, Geraldo, Eduardo e eu permanecemos no barco quando chegou a data de entrega de material. Essa mesma equipe foi a alma do Manicomics até a entrada de Allan Goldman para o conselho editorial já no início dos anos 2000.

Em 1996, quando Daniel, Geraldo e eu tínhamos começado a produzir arte para a revista Capitão Rapadura, do cartunista Mino surgiu um convite para participar de uma exposição de quadrinhos no SESC. A exposição teria artes originais do Álvaro Rio, do Mino e nossas. Além da exposição dos originais de um fanzine chamado Daes Irae. No evento haveria lançamento de vários fanzines e estávamos encarregados de levar edições da revista do Capitão Rapadura. O Manicomics #0 estava em fase de produção e aproveitamos a oportunidade para fechar a edição e fazer o lançamento por lá.
Foi um evento pequeno, mas interessante, além da exposição, teve palestra dos convidados, venda de fanzines, revistas e exibição dos seriados de matinês dos anos 40: Shazam, Fantasma e Batman.
Para o evento conseguimos fazer uma tiragem de cerca de 900 exemplares ―explico detalhes disso logo mais― e distribuímos o Manicomics gratuitamente. Muita gente gostou, travamos contato com muita gente legal que viria a nos ajudar nos anos seguintes.
Final do evento recolhemos nossas artes, reunimos e organizamos nosso material, mas eis que na saída encontramos um exemplar da nossa publicação no lixo. Comentei com alguém quando Daniel falou: “Rapaz, também vi exemplar no lixo.” “Estão pensando que é folder” acrescentou Geraldo. As pessoas não entenderam que a distribuição gratuita era uma forma de ampliar bastante o público. No dia seguinte mudamos a tarja da capa de “exemplar gratuito” para: “Preço R$ 1,00”. Era um valor simbólico, mas dali pra frente quem colocasse o exemplar no lixo estaria jogando dinheiro fora. Aprendemos na prática a necessidade de valorizar o próprio trabalho para que os outros também o valorizem.